A história do desenvolvimento nuclear no Brasil não é muito diferente do que ocorreu em algumas das nações que exploram esta forma de energia, mas apresenta característica que podem ajudar a entender o que ocorre por exemplo em alguns países da Ásia, que abraçaram o uso desta matriz energética ou tentam obter esta tecnologia.
Chamamos a atenção para o fato de que quando o Brasil iniciou seus estudos e projetos, entre as décadas de 70 e 80, havia uma rivalidade crescente em relação a Argentina e a seu projeto nuclear, e uma grande desconfiança no tocante aos fins e propósitos tanto do Brasil quanto da Argentina em relação ao uso desta energia, alimentadas no âmbito internacional por algumas nações encabeçadas pelos EUA, que efetivamente interviu para dificultar o acesso do Brasil e da Argentina à tecnologia nuclear, prejudicando acordos de cooperação entre o Brasil e a Alemanha, e entre a Argentina e Suíça.
Ressaltamos que o Brasil para ter acesso a tecnologia nuclear, bancou um programa nuclear oneroso e cuja implementação enfrentou dificuldades enormes, pois mesmo com o tratado de cooperação e transferência de tecnologia com a Alemanha, voltado principalmente para geração de energia elétrica a partir das centrais nucleares de Angra dos Reis, a tecnologia fornecida pela Alemanha já era considerada superada ou imprópria, mesmo na época da ativação da usina de Angra I, segundo alguns especialistas da área.
Apesar destas limitações, a realização das atividades nucleares em solo brasileiro, impulsionou pesquisas em vários centros brasileiros, que serviram para ampliar os conhecimentos e capacitação nacional, levando o Brasil a adquirir certa autonomia em relação a algumas fases do processo de enriquecimento de urânio e geração de energia, inclusive um dos mais ambiciosos projetos brasileiros continua em andamento e decorre destes conhecimentos tecnológicos adquiridos, refiro-me a construção de um submarino nuclear brasileiro pela Marinha do Brasil e algumas empresas nacionais.
Por outro lado ainda em razão do conhecimento obtido, o Brasil ampliou a produção de medicamentos e materiais a base de rádio-isótopos para fins medicinais.
Ao longo do tempo, a participação de algumas unidades federativas nas diversas fases da produção e manipulação de material físsil, tem sido ampliada significativamente. Isto pode ter aspectos interessantes, mas se constituem também em uma ampliação dos riscos de contaminação radioativa, inclusive em relação ao tratamento e destinação de resídios radioativos, lixo. Cuja a dimensão do problema pode ser avaliada a partir de um caso concreto de contaminação radioativa no Brasil, o incidente com o Césio 137 em Goiânia
ocorrido em setembro de 1987.
Recomendamos que leiam: Espionagem à brasileira - Isto é de 05.05.1999 Edição nº 1544
Ver também a recente entrevista do ex-presidente americano Jimmy Carter em:
JIMMY CARTER CONFIRMA: ESTADOS UNIDOS NÃO QUERIAM QUE REGIME MILITAR BRASILEIRO FABRICASSE ARMA ATÔMICA - G1 Geneton Moares 18.11
Ver também revelações recentes do Wikileaks publicadas na Folha.com, e que tratam de telegramas do cônsul dos EUA no Brasil, que inclui observações sobre o tema nuclear e planos brasileiros, o que demonstra um forte interesse dos EUA em maior controle das atividades brasileiras (algo que não se cogita com aliados como Israel).
Telegrama de 2004: EUA fazem duras críticas à Estratégia Nacional de Defesa; leia telegrama em português - Folha 01.12.2010
Telegrama de 2008:Diplomata avalia acordo Brasil-Argentina com agência nuclear da ONU; leia em inglês - Folha.com
Telegrama de 2009: Brasil cogita aceitar visitas da AIEA, mas não protocolo adicional; leia em inglês - Folha 09.01.2011
EUA discutem pontos de acordo nuclear com diplomatas brasileiros; leia em inglês - Folha 09.01.2011
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Traçando paralelos
Levando os fatos relacionados a história nuclear do Brasil ao contexto atual, podemos fazer algumas análises mais amplas, ressaltamos que não somos favoráveis a adoção de projetos de uso de energia nuclear para fins militares e mesmo de geração de energia elétrica, apenas não achamos correto os métodos de controle adotados pelas grandes potências (numa ingerência e atitude de dominação explicita), e entendemos que agravam as dificuldades que impedem resoluções satisfatórias e acordadas:
Diante das "evidências" de que há por parte do Irã ações que o levariam a produzir uma arma nuclear, pergunta-se: Até que ponto as nações ocidentais e seus aliados (alguns dos quais detentores de armas e tecnologias nuclear, a exemplo de Israel que sequer declara dispor de arsenal nuclear, e nem mesmo é signatário de acordo internacional de não proliferação de armas, NPT), conseguiram frear projetos como os que são atribuídos ao Irã?
Sabemos que a resposta não é simples, e não estamos defendendo o direito do Irã a produção de energia nuclear em sua matriz energética. Acreditamos que para esta finalidade há alternativas mais apropriadas e seguras, mas reconhecemos a importância do uso de alguns dos princípios relativos a energia atômica para fins médicos dentre outras finalidades, que possam contribuir para o desenvolvimento humano, com risco menores ao ambiente.
A questão é, que na prática torna-se uma questão de tempo para que nações em desenvolvimento dominem a tecnologia, e é mais difícil evitar o uso indevido do conhecimento se a integração com tais nações se encontra prejudicada.
Talvez ainda estejamos perdendo muito tempo em regular, barrar o acesso a tecnologia por alguns povos, quando os esforços deveriam ser cooperativos e voltados para, facilitar o uso específico da energia nuclear dirigida a setores como medicina (apenas para ilustrar), e fomentar o uso de alternativas de fontes energéticas, além é claro, de inciar uma retomada com mais intensidade, das discussões internacionais que levem a um total desarmamento (no que tange a arma nucleares) como se fez a décadas passadas, e que hoje estão praticamente congeladas tais ações.
Em síntese não há alternativa de curto prazo, nem solução que não passe pela real e total extinção dos arsenais nucleares e desativação de usinas termonucleares. Hoje temos um grande número de nações que se constituem em verdadeiras fontes de preocupação por conta de seus arsenais nucleares, só para citar podemos mencionar o Paquistão, a Índia, e a Coreia do Norte, dentre elas, e mundo vive a décadas na iminência de nova catástrofe nuclear.
Contudo podemos tomar algumas lições no que se refere a condução de crises, como as que foram desenhadas em um passado não muito distantes e envolviam Brasil e a AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica, ou em outros momentos com os EUA e Argentina, etc.
Dentre lições que se pode tirar, está o fato de que os organismos internacionais de controle precisam passar por mudanças, que aumentem sua capacidade de atuação e eficiência e reduzam a influência política (nem sempre saudável) sobre suas ações. O que é reforçado se observamos o papel da AIEA no caso do Iraque e recentemente do Irã, algo a ser analisado com cautela e seriedade.
Voltamos a frisar que o foco deve ser o fim das ações para produção de armas nucleares, e a imediata implementação de novas agendas e planos de desarmamento encabeçados pelas atuais potências nucleares, assim como uma efetiva atuação em favor da substituição do uso da energia nuclear na geração de eletricidade. Sem tais medidas que devem ser protagonizadas por quem já detém as armas e a tecnologia, estamos perdendo tempo e aumentando os riscos de um contínuo crescimento da ameça nuclear.
Cogumelo atômico fruto da explosão de uma arma nuclear (teste nuclear) - obtido em http://rafaelnick.files.wordpress.com/2010/01/01.jpg |
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Brasil, energia nuclear em foco
Veja no portal do Green Peace a comunicação sobre carta enviada ao BNDES, alertando sobre o financiamento de Angra III
Green Peace envia carta ao BNDES
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Mesmo após o acidente recente com a usina nuclear de Fukushima no Japão (no dia 13.03.2011), o governo brasileiro anuncia que pretende manter os projetos de construções de novas termonucleares no Brasil. Veja a matéria:
Fato Notório - Ministro declara que Governo Federal manterá projeto de usinas nucleares
Resta-nos a pergunta: precisamos mesmo de usinas nucleares? Dispomos da matriz energética mais "limpa do mundo", para que ampliar o parque termonuclear quando existe alternativas menos danosas e arriscadas de produção de energia elétrica, em algumas destas somos detentores de tecnologia avançada e temos vasta experiência, tais como: no caso das hidroelétricas.
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Usina Nuclear de Angra I - Rio de Janeiro |
A reportagem a seguir foi publicada na Folha.com em 23/03/2011 - 17h43
Físico alerta sobre construção de usinas nucleares no Brasil
DA AGÊNCIA BRASIL
Após o vazamento de material radioativo no Japão, devido ao terremoto e ao tsunami que devastaram a região nordeste do país, o Brasil precisa rever os planos de construção das novas usinas nucleares. A afirmação é do físico da USP (Universidade de São Paulo) José Goldemberg, feita nesta quarta-feira em entrevista ao programa "Revista Brasil", da rádio Nacional. Para ele, as autoridades brasileiras precisam adotar uma nova postura diante do programa nuclear. "Seria conveniente que as autoridades brasileiras olhassem os problemas com certa humildade, e fizessem uma avaliação antes de se envolverem em planos de expansão."
Atualmente, estão em funcionamento, gerando energia, as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2. Além da usina nuclear Angra 3, que deve ser concluída em 2015, estão previstas pelo menos mais quatro usinas, duas no Nordeste e duas no Sudeste.
Goldemberg lembrou que, na década de 70, cerca de 30 reatores eram postos em funcionamento por ano, no mundo. Atualmente, estão sendo instalados de três a quatro.
Uma das razões para essa estagnação, segundo ele, foi o aumento do custo dos reatores provocado pela necessidade de melhorar a segurança das usinas.
"O custo da instalação de um reator nuclear triplicou entre 1985 e 1990. Por isso, alguns países estão buscando outros caminhos.Na Alemanha, por exemplo, serão desativados todos os reatores com mais de 30 anos."
De acordo com o físico, o tempo útil de um reator nuclear é relativo. À medida que as peças ficam gastas, vão sendo substituídas. Existem, hoje, reatores com mais de 40 anos de uso.
Sobre a segurança dos reatores brasileiros, Goldemberg afirmou que são equipamentos seguros. "A segurança das usinas nucleares brasileiras é de nível internacional. Não são piores, nem melhores [as usinas brasileiras]. É seguro, assim como os japoneses também achavam [que os reatores deles eram seguros]."
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Usinas nucleares instaladas no Brasil segundo ANEEL, atualizado em 09.05.2012
dados da ANEEL
Matriz Energética do Brasil |
USINAS do tipo Nuclear em Operação | |||||||||
Usina | Potência Fiscalizada (kW) | Destino da Energia | Proprietário | Município | Combustível | Classe Combustível | |||
Angra I (Usina Nuclear Almirante Álvaro Alberto - Unidade I) | 657.000 |
SP |
100% para EletrobrásTermonuclear S/A. |
Angra dos Reis - RJ |
Urânio | Nuclear | |||
Angra II (Usina Nuclear Almirante Álvaro Alberto - Unidade II) | 1.350.000 |
SP |
100% para EletrobrásTermonuclear S/A. |
Angra dos Reis - RJ |
Urânio | Nuclear | |||
Total: 2 Usina(s) | Potência Total: 2.007.000 kW |